30 março 2005

o brinde

Em grande excitação o garoto andava aos pinotes à volta da mãe aguardando que esta abrisse finalmente o pacote de cereais e ele pudesse ver o tão almejado brinde. Brindes que aqueles pacotes sempre traziam dentro, para gáudio da miudagem e desespero dos pais, confrontados na hora das compras com os insistentes apelos dos filhos à compra daqueles pacotes de cereais.

A mãe acabou de abrir o pacote, introduziu nele a mão e retirou uma pequena cápsula de acrílico com uma forma escura dentro. Pousou o pacote sobre a mesa e pegou no microchip que acompanhava a cápsula. Introduziu o chip no leitor ligado ao computador de gestão doméstica que tinha incrustado na parede sobre a bancada. No écran surgiram de imediato as instruções de manuseio. Leu-as cuidadosamente. Dirigiu-se ao lavatório, abriu a torneira de água fria, abriu a cápsula, retirou para fora a pequena forma escura e mergulhou-a debaixo de água com cuidado. Com o efeito da água e de acordo com as instruções a pouco e pouco a pequena forma escura alterou-se. Começou a aumentar de volume, crescendo rapidamente a olhos vistos e mudando a sua forma começou a revelar a sua natureza. Acompanhada dos gritos de excitação do catraio e os ohs de admiração da mãe a forma escura parou de crescer.

Mãe e filho tinham agora perante eles uma magnífica cria recém-nascida de um rafeiro alentejano que latia dando pequenos saltos e procurando sair do lavatório! Uma proeza da liofilização biónica transgénica! Desta vez os cereais tinham oferecido um cão. O mês anterior tinham oferecido um casal de periquitos.
Qual seria a próxima oferta? Interrogava-se o garoto, contente, abraçando com ternura o seu novo companheiro de brincadeira.

6 comentários:

Isabel Magalhães disse...

Assustadora F.C. do nosso contentamento! :)

* :)

Unknown disse...

Olá Isabel,

A minha 'pergunta' é mesmo: Onde está o limite da ciência?
Será que estamos a criar um mundo tecnológico, onde tudo é possível/permitido, incluindo a 'vida' artificial?
Esquecendo o prazer insubstituível da vida natural?

O que ganhamos e, sobretudo, o que perdemos?

bjs,

Isabel Magalhães disse...

Essas perguntas causam um aperto...




Um *

Unknown disse...

Olá Isabel,

É o aperto que eu sinto.
Incomoda-me a ideia de que a tecnologia nos leve a substituir o natural por um 'clone'.
Levando-nos a esquecer o infinito prazer que a fruição do natural nos pode proporcionar.

Acho que existe um limite, só não o sei definir...

bjs,

Anónimo disse...

A mim a ultima vez saiu um rato com tromba de elefante e cauda de diabo. Multiplica por quatro e vê bem a arca de nôe que a minha casa é. beijos do mano velho e dos teus quatro sobrinhos.

Anónimo disse...

correção ... mano novo